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Um Caso de Aconselhamento de Casal (Sessão Final)

João Paulo e Juliana Thomaz de Aquino[1]

 

Depois de terem lido o livro “Quando Pecadores Dizem Sim” inteiro, Otávio e Valéria marcaram a sua última sessão de aconselhamento com o conselheiro Renato. Depois de se cumprimentarem, Renato perguntou ao casal quais foram as lições principais que haviam extraído do livro.

Valéria falou que o capítulo 6, que narrou com detalhes a história do casamento, adultério e restauração de Cindy e Jeremy, foi doloroso de ler, pois ela se colocou no lugar de Cindy e viu o quanto precisava crescer em aprender a perdoar. Otávio também disse que se identificava com Jeremy no fato de ser orgulhoso, achando que as reclamações de Valéria não eram justas, considerando o marido maravilhoso que ele era. “Durante algumas de nossas discussões, eu realmente cheguei a pensar algumas vezes que tantas outras mulheres seriam muito agradecidas por estarem casadas com um marido tão bom e fiel quanto eu”, disse Otávio envergonhado.

Valéria continuou meio enrubescida: “Outro capítulo que me chamou muito atenção, foi o capítulo 9, sobre sexo. Creio que eu estava permitindo que incredulidade e amargura tomassem conta do meu coração e por isso ficava tão difícil de me entregar e inventava desculpas. Eu e Otávio temos conversado mais abertamente sobre este assunto”. Otávio também comentou que não tinha pensado no sexo como algo tão santo e que entendeu que estava faltando no seu dever de cultivar o romance com sua esposa e consequentemente a vida íntima deles.

O conselheiro, então, perguntou o que Otávio tinha achado do capítulo 8, sobre a graça  e comentou que tal capítulo ajudava a ver o quando somos dependentes de Deus e não podemos viver sendo graciosos conosco mesmos. Otávio, por sua vez, respondeu que se deparou com essa tendência sua por meio das sessões de aconselhamento: “Bem, eu acredito que tenho a tendência de ser bonzinho demais comigo mesmo e preciso me ver mais como um pecador dependente da graça de Deus. Estou aprendendo que meu pecado é mais profundo do que normalmente eu via”.

Satisfeito com o progresso que o casal havia feito em tão pouco tempo, Renato orou com eles no meio da sessão, agradecendo pela transformação que Deus estava fazendo nessa família. Depois de orar, o conselheiro continuou: “Então, meus irmãos, é fundamental que vocês continuem cuidando do seu casamento. Otávio e Valéria, prestem atenção nas reclamações do outro e tratem-nas com seriedade, mesmo quando o assunto não parecer tão sério para aquele que ouve a reclamação. Ao mesmo tempo, lembrem-se de serem gentis ao apresentar as falhas um do outro. Deus tem um casamento ótimo reservado para os seus filhos, mas isso tem um custo alto, que é o nosso esforço, criatividade e decisão de colocar o outro, e não nós mesmos, na posição de pessoa mais importante. Isso é especialmente importante para você, Otávio, como responsável pelo teu lar. Encontrem amigos maduros na fé que possam ajudar vocês nos momentos de dificuldades e ajudem outros casais com as experiências de vocês”.

Renato continuou: “Caso vocês precisem de ajuda novamente, lembrem-se de buscar essa ajuda, assim como vocês fizeram. Em geral, os homens têm maior dificuldade em buscar ajuda; são mais orgulhosos e acreditam que pedir socorro é um sinal de fraqueza e fracasso, de que não dão conta de manter a família.” Otávio confirmou este fato, dizendo que embora Valéria já tivesse sugerido que procurassem ajuda, ele demorou mais do que deveria ter demorado para aceitar.

O conselheiro continuou: “É importante lembrar que por vivermos em um mundo caído, desde o dia em que escolhemos alguém para namorar, já existem motivações que futuramente se transformam contra nós”. Ele explicou: “Quando escolhemos uma namorada ou namorado, além de boas motivações também existem as motivações pecaminosas, egoístas, que nem nós mesmos conhecemos. O que acontece é que, com o passar dos anos e com as mudanças que vivemos, aquilo que satisfazia essas motivações pecaminosas deixa de existir, ou nos tornamos ainda mais egoístas e o resultado é que o sentimento, a admiração e o valor que dávamos para nosso cônjuge também se modificam. Esse é um dos motivos pelos quais as brigas acontecem e é importante que nesse momento, reconheçamos nossa incapacidade de resolver os problemas sozinhos. Isso é sinal de maturidade e não de fraqueza. Podemos evitar muito sofrimento e desgaste se procurarmos ajuda no momento certo. Aos poucos, vocês mesmos vão crescendo em se autoconhecer e abrindo caminho para conhecer o outro e entendê-lo melhor”.

Valéria comentou que achava aquilo que o conselheiro estava dizendo muito interessante e que gostaria de uma indicação de livro sobre o assunto. Renato indicou os livros “O que você esperava” e “O Significado do Casamento”.

Tendo passado um pouco do horário, Renato pediu para Otávio orar, o qual, depois, abraçou o conselheiro e lhe dirigiu palavras sinceras de gratidão, sendo seguido por Valéria. E assim ambos se foram.[2]

 

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[1] João Paulo e Juliana são casados há 18 anos e são pais de três crianças lindas. Ju é formada em psicologia, psicopedagoga e atua como conselheira bíblica. João é pastor, professor do CPAJ doutor em Novo Testamento. Para as sessões anteriores clique aqui: sessão 1, sessão 2 e sessão 3.

[2] Nós tivemos vários objetivos com essa série sobre sessões de aconselhamento bíblico para um casal em crise. Queríamos escrever algo juntos, como casal, e esta série foi o primeiro resultado disso. O processo da escrita nos fez muito bem! Também queríamos de alguma forma ajudar os casais, tanto criando um material que lhes possa ser útil e motivo de diálogo, quanto motivando-os a buscar ajuda de conselheiros bíblicos. Finalmente, esperamos também que essa série contenha dicas práticas que possam ser usadas por outros conselheiros. Caso você tenha sido abençoado com essa série e deseja compartilhar conosco a sua história, será um prazer ouvi-lo(a). Deixe-nos uma mensagem nos comentários.

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Um Caso de Aconselhamento de Casal (Sessão 4)

João Paulo e Juliana Thomaz de Aquino[1]

 

Renato recebeu Otávio e Valéria em seu consultório e, depois dos cumprimentos iniciais disse-lhes que o objetivo dessa sessão seria fazer uma avaliação de como eles estavam lidando com seus problemas à luz de tudo o que haviam falado um para o outro e de todas tarefas que haviam feito. Assim, Renato apresentou aos dois uma lista de reclamações que haviam feito um do outro e de outros erros que ele mesmo via em ambos. O conselheiro deixou claro que a lista não era exaustiva, mas um lembrete para que pudessem usar na conversa daquele dia e das conversas entre eles nos próximos dias. A lista era a seguinte:

 

Erros de Otávio Erros de Valéria
Frio Não valoriza Otávio
Egoísta Critica Otávio publicamente
Sem vontade de mudar Não se entrega sexualmente a Otávio
Não valoriza sua esposa devidamente Traz à tona erros do passado
Agradador com outros e não com sua esposa Ciúmes
Não é romântico Exageradamente nervosa e exigente
Erros Comuns aos Dois
·         Não fazia suas devocionais
·         Cedendo à um pensamento secular quanto ao casamento
·         Prioridades erradas (importante x urgente)
Consequências
·         Sem diálogo
·         Sem alegria
·         Sem vida a dois (diálogo, romance e sexo)
·         Não prover uma família estruturada para Luana
·         Não refletir adequadamente o relacionamento entre Cristo e a Igreja

 

Após alguns minutos de silêncio em que cada um olhava envergonhado para a sua parte da lista, o conselheiro disse que eles haviam tratado de alguns assuntos do ponto de vista bíblico e que a Bíblia tinha que ser aplicada na vida de forma prática. “Na primeira sessão eu falei com vocês sobre o perdão e os textos bíblicos foram sobre a necessidade de cada um de vocês ver a si mesmo como um pecador diante de Deus que tem obrigação de perdoar o outro”, disse Renato. “Na segunda e terceira sessões, vocês, além de apontarem os erros um do outro, também tiveram que se lembrar e reconhecer as qualidades um do outro. Tantas vezes, em nosso egoísmo, ficamos tão focados em aliviar o nosso sofrimento que deixamos de valorizar as qualidades de nosso cônjuge e justificamos os nossos próprios pecados. Isso nunca é correto. Os textos bíblicos da segunda semana enfatizaram que Deus é o personagem central de nossas histórias e que, por causa dEle, nós devemos cumprir com nossas obrigações espirituais e relacionais”. Nessa hora Renato perguntou aos dois se estavam lendo o livro que ele havia recomendado, “Quando Pecadores Dizem Sim”. Ambos responderam afirmativamente e ele lhes perguntou qual estava sendo a utilidade prática do livro.

 

Otávio falou que não estava conseguindo fazer um capítulo a cada dois dias, conforme solicitado, mas estava se esforçando para ler o máximo possível. Ele disse ser interessante que apesar de ser cristão há tanto tempo, ele nunca havia pensado sobre o seu casamento de maneira tão “teológica”. “Parece-me que normalmente não fazemos uma aplicação de coisas como pecado, lei, graça, perdão de Deus para o nosso casamento. A frase que mais gostei do livro até aqui foi ‘O que acreditamos sobre Deus determina a qualidade do nosso casamento” (p. 17).

 

“E você, Valéria?”, perguntou Renato. Valéria disse que na questão entre lei e graça ela se sentia mais pendente para o lado da lei do que da graça. Ela tinha dificuldades de aceitar graça de Deus para com ela e também tinha dificuldades de estender graça a outros, incluindo Renato. “Para mim”, disse Valéria, “a parte do livro que mais me chamou a atenção foi o capítulo cinco. A última frase dele diz assim: ‘A misericórdia nunca se esgota porque é capaz de cobrir tudo que toca. Ela torna agradável tudo o que toca porque é vinda do céu – do próprio trono do salvador misericordioso. A misericórdia é uma bênção para aqueles que recebem e aqueles que dão. Receba toda a misericórdia que você puder. E não se esqueça de passar adiante’” (p. 88).

 

Renato perguntou a Otávio se ele achava que eles estavam progredindo. Com um sorriso no rosto, Otávio disse um sim convicto. Disse que nas últimas semanas eles haviam gastado mais tempo juntos, tendo conversas produtivas sobre seu casamento, prioridades, orçamento e tiveram alguns momentos juntos como há bastante tempo não tinham.

 

Valéria disse que eles estavam reaprendendo muito sobre seu casamento e sobre Deus. Disse que Luana havia comentado que estava se sentindo mais feliz e isso a deixou muito contente. Valéria também disse que tinha medo de regredir como casal depois que parassem as sessões de aconselhamento.

 

“Vocês vão continuar enfrentando dificuldades em seu casamento, afinal, vivemos em um mundo caído e manchado pelo pecado! Lembrem-se, no entanto, de que quanto mais próximos de Deus ficarem por meio de leitura da Bíblia, oração, comunhão com pessoas maduras na fé e serviço cristão, mais vocês vão progredir e refletir o caráter de Cristo um no outro e para o mundo”, aconselhou Renato e continuou:

 

“Continuem lendo o livro, escolhendo algum texto do mesmo para meditar e aplicar de maneira especial. A outra tarefa para hoje é a seguinte, eu quero que vocês olhem cuidadosamente e diversas vezes a folha com os erros de vocês e, para cada erro, decidam duas atitudes práticas que ajudarão a resolver aquela questão. Quero que liguem para marcarmos a última sessão quando vocês terminarem a leitura do livro, a não ser que algo mais urgente surja”.

 

Após orarem juntos, Renato se despediu do casal.

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[1]  João Paulo e Juliana são casados há 18 anos e são pais de três crianças lindas. Ju é formada em psicologia, psicopedagoga e atua como conselheira bíblica. João é pastor, professor do CPAJ doutor em Novo Testamento. Para as sessões anteriores clique aqui: sessão 1, sessão 2 e sessão 3.

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Um Caso de Aconselhamento de Casal (Sessão 3)

João Paulo e Juliana Thomaz de Aquino[1]

 

Otávio e Valéria chegaram adiantados para a sessão daquela segunda-feira.[2] Na sala de espera, Otávio ficou pensando no que falaria naquela sessão e se valia a pena, pois as coisas estavam um pouco melhores e ele tinha medo de estragar tudo. Depois de os chamar para entrar, o conselheiro Renato perguntou se eles haviam feito as tarefas da semana. Ambos responderam que sim e que as leituras bíblicas diárias estavam sendo muito úteis, embora nem sempre conseguissem aplicar o texto de maneira prática. Renato falou um pouco sobre isso, dizendo que a aplicação prática da Bíblia não acontece de forma automática, mas implica em gastar um tempo pensando no que aquele texto ensina a respeito de Deus, dos seres humanos e do mundo, e como esses ensinos se aplicam de maneira prática à nossa realidade e dificuldades que estamos vivendo.

Ainda sobre as tarefas, Otávio e Valéria comentaram também o quanto a tabela de urgente X importante os havia ajudado a ver que o tempo deles estava se esgotando com coisas como reuniões, pagar contas, trânsito, adiantar trabalho, cozinhar, lavar e passar, arrumar a casa e bastante tempo gasto em televisão, redes sociais e Internet. Por causa dessas coisas, diversas outras importantes não estavam tendo o lugar devido na vida deles como tempo a dois, tempo de qualidade com Luana, devocionais, tempo para servir a Deus na igreja, envolvimento com um dos pequenos grupos da igreja e tempo para Otávio fazer o MBA que ele tanto queria. Ambos entendiam que precisavam melhorar a maneira que gastavam seu tempo e dinheiro e Renato pediu para que eles fizessem uma agenda  e um orçamento familiares baseados na tabela de urgente X importante e trouxessem na próxima semana.

Renato, então, se virou para Otávio e disse que era o dia dele falar e que as regras eram as mesmas da semana anterior, antes de cada crítica, um elogio. Ele começou dizendo que as coisas estavam melhores e que ele até mesmo ficava temeroso de falar e voltar à estaca zero novamente. Renato lhe assegurou que quanto mais eles se conhecessem, conversassem e resolvessem seus problemas, mais próximos ficariam um do outro e que foi o não falar mais do o falar que havia causado suas dificuldades. Renato pediu que Otávio falasse diretamente para Valéria o que ele tinha a dizer, o que tornou as coisas muito mais difíceis e mais significativas também. Então, Otávio começou:

“Valéria, você é uma mulher muito bonita e inteligente. Isso me chamou muito a atenção em você quando ainda éramos apenas amigos. Você era a moça mais bonita que eu conhecia e não era fútil, sem conteúdo, mas se mostrava sempre curiosa para conhecer coisas novas.” Otávio se virou para Renato e continuou: “Agora, uma questão que eu gostaria de falar da Valeria é que…” Nessa hora Renato lembrou que Otávio deveria falar para Valéria. “Ok”, disse Otávio meio a contra-gosto. “Valéria, eu gostaria que você fosse mais disposta a nos relacionarmos sexualmente, pois na maioria das  vezes você se diz cansada e não demonstra nenhum interesse por nossa relação nessa área. Acho muito ruim ter que insistir tanto para ter uma relação sexual com minha esposa. Parece que sexo é algo ruim que você faz por obrigação e que é um favor que você faz para mim.” Otávio falava como quem estava bastante chateado.

Renato lembrou que Otávio deveria fazer um elogio e Otávio disse: “Apesar de você trabalhar fora e chegar cansada do trabalho você é muito atenciosa com Luana. Você está sempre preocupada e interessada na vida de nossa filha. Mas algo que tem me incomodado bastante é o fato de  você, até por trabalhar fora e estar sempre cansada, achar que está justificada quanto ao seu nervosismo exagerado. Mesmo eu te ajudando nas tarefas da casa, nunca é o suficiente e você está sempre à flor da pele com as exigências que você mesma se impõe. Isso têm minado o nosso relacionamento, pois não tenho mais vontade de conversar com você, já que as nossas pequenas conversas acabam sempre em reclamações e discussões”.

Valéria estava chorando e Renato pediu a Otávio que pegasse nas mãos de sua esposa e lhe fizesse uma declaração de amor relacionada à tudo aquilo que ele tinha acabado de falar. Sentindo-se triste e aliviado ao mesmo tempo Renato disse: “Meu bem, você é a mulher com quem eu escolhi viver a minha vida toda porque eu te amo. Você continua linda e é porque eu te amo que eu sinto vontade de fazer amor com você. Desculpe-me se falei coisas duras, mas realmente quero melhorar o nosso casamento. Conte comigo sempre.”

O conselheiro explicou ao casal a importância dos conselhos de Provérbios 27.5-6: “Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto. Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos.” Ele disse que ambos haviam falado coisas duras um para o outro e que certamente havia verdades naquilo em que se acusaram e que durante aquela semana eles deveriam avaliar seus próprios erros como marido e esposa e buscar melhorar, mesmo naquilo em que achavam que o outro havia exagerado ou sido injusto. Além de fazer a agenda e o orçamento familiar, eles deveriam sair novamente com Luana. A tarefa diária seria a leitura do livro (disponibilizado gratuitamente na Internet) “Quando Pecadores Dizem Sim”. Eles deveriam ler um capítulo a cada dois dias, escolhendo a cada dia um trecho bíblico que mais chamou a atenção. Esses textos bíblicos com duas ou três linhas de comentários deveriam ser anotados em uma folha, juntamente com comentários pessoais sobre o livro e trazidos na próxima sessão. Após pagar a sessão, Otávio agradeceu e se despediu de Renato dizendo  que ele os estava abençoando muito e que ele se sentia mais próximo de sua esposa e de Deus.

 

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[1] João Paulo e Juliana são casados há 18 anos e são pais de três crianças lindas. Ju é formada em psicologia, psicopedagoga e atua como conselheira bíblica. João é pastor, professor do CPAJ doutor em Novo Testamento.

[2] Para as sessões anteriores clique aqui: sessão 1 e sessão 2. Esses posts apresentam um caso fictício que representa muitos casamentos. Ao mesmo tempo em que cada relacionamento tem dinâmicas únicas, muitos problemas que os casais enfrentam são bastante comuns e dizem respeito ao desprezo em fazer o básico e deixar que o pecado do egoísmo em vez do serviço tome conta do coração.

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Um Caso de Aconselhamento de Casal (Sessão 2)

João Paulo e Juliana Thomaz de Aquino[1]

Uma semana se passou.[2] Valéria e Otávio vieram para a segunda sessão de aconselhamento com o Renato, o conselheiro bíblico que os está ajudando em sua crise matrimonial. Valéria fez todas as tarefas (devocionais e leituras), Otávio falhou em algumas. Eles relataram que a semana foi um pouco melhor e que conseguiram conversar um pouco mais, mas no dia anterior ao da reunião tiveram uma briga muito feia.

Renato perguntou o motivo da briga. Otávio disse que o ciúmes de Valéria havia gerado a briga. Valéria, por sua vez, disse que Otávio não se comportava de forma que ela tivesse confiança nele. O conselheiro propôs, então, que, naquele dia, Valéria teria mais tempo para falar e, na próxima sessão, Otávio falaria mais. Ela poderia falar dos defeitos de Otávio, mas antes de cada defeito, teria que pontuar alguma coisa boa a respeito de seu esposo. Otávio ficou meio contrariado por se sentir o alvo naquela sessão, mas topou. Valéria não achou nada ruim.

Valéria começou falando que Otávio era um bom pai. O carinho e cuidado dele com Luana eram muito grandes e Luana adorava o pai. Dever cumprido, Valéria reclamou, bem emotiva, que Otávio não a fazia se sentir amada. O jeito simpático dele com todo mundo fazia com que ela se sentisse apenas mais uma e não em uma posição especial como sua esposa. Ela não gostava do fato de que ele dava atenção para todas as pessoas, mas a ela não. “Por vezes parece até que os problemas da atendente do mercado são mais importantes para Otávio do que os meus”. Otávio ficou queimado com o comentário e quis falar, mas o conselheiro pediu a ele que desse espaço e liberdade para Valéria. Quando ela começou a reclamar do segundo aspecto, Renato a lembrou que ela tinha que fazer outro elogio.

Foi difícil lembrar de algo bom naquele momento, visto que as emoções estavam tão negativas, mas ela comentou que Otávio era muito esforçado com relação ao trabalho dele. Ela admirava o quanto ele era inteligente e esperto em administração. Disse que ele estudava muito para estar sempre atualizado e que os seus patrões ficavam sempre impressionados com o domínio que Otávio tinha de sua área de atuação. Valéria disse ainda que se sentiu muito orgulhosa quando ele ganhou uma promoção há dois meses atrás. Ela disse que o admirava muito como profissional. Otávio estava genuinamente impressionado. “Você nunca me disse nada disso”, ele falou sorrindo com o canto da boca. Eles trocaram um olhar diferente, carinhoso.

“Agora a crítica”, disse o conselheiro. Valéria disse que gostaria que Otávio a convidasse mais para sair, organizasse encontros a dois, sem Luana. Desde que Luana nasceu eles tiveram pouquíssimas noites fora e ela sentia falta disso. Era como se o trabalho, os compromissos com Luana, os amigos e a igreja estivessem sufocando o tempo dos dois. Otávio se esforçou para não se sentir atacado e concordou que realmente precisavam dar mais tempo e atenção para seu relacionamento em vez de apenas ir cumprindo compromissos e demandas urgentes. O conselheiro percebeu que no decorrer dessa sessão, as cadeiras dos dois tinham se aproximado. Tendo terminado as queixas principais de Valéria, Renato pediu a ela que resumisse tudo em uma frase. Valéria disse: “Não me sinto cuidada por Otávio”.

O conselheiro perguntou a Otávio quais eram as coisas mais importantes em sua vida, ressaltando a necessidade de ser sincero consigo mesmo. Após pensar por alguns minutos, com a sala em silêncio, Otávio respondeu: “Desde criança tenho aprendido e tentado colocar Deus em primeiro lugar de importância em minha vida, minha família em segundo e meu trabalho e igreja em terceiro e, embora não de forma perfeita, acho que tenho conseguido fazer isso com certo sucesso”. Nesse momento, o conselheiro perguntou: “O que você tem feito que demonstre que essas prioridades realmente estão no lugar onde você as colocou?”

Otávio, como quem não gostou da pergunta e na defensiva, começou a se explicar… Renato o interrompeu e disse: “eu quero que você me apresente fatos em sua vida que comprovem o que você me disse acerca de suas prioridades.” Otávio recomeçou: “Bom, eu tenho feito minhas devocionais…”. “Com qual frequência?”, perguntou o conselheiro, já que ele não havia feito todas as leituras bíblicas indicadas na sessão anterior. Otávio baixou a cabeça e assumiu que estava falhando nisso. Ele disse que houve uma época em que lia a Bíblia diariamente e livros devocionais com bastante frequência, mas há algum tempo já não lia diariamente a Bíblia, nem tinha um tempo a sós com Deus. Otávio ficou em silêncio por um momento e disse que precisava repensar suas prioridades, pois percebera não ter argumentos suficientes para sustentar as prioridades que dizter.

Como a sessão estava chegando ao fim, Renato passou para a parte de instruções das tarefas da semana, querendo deixar a interrogação na cabeça de Otávio. Tanto Otávio como Valéria, separadamente, deveriam colocar em um caderno quais eram as coisas urgentes e corriqueiras de suas vidas, coisas que não podiam esperar, desde as mais simples às mais complexas e quais eram as coisas importantes de suas vidas. Uma tabela simples com quatro colunas: Urgente – Atitudes Práticas – Importante – Atitudes Práticas. A tarefa deveria ser trazida na próxima sessão. Além disso, Otávio teria que organizar uma noite fora para os dois terem um tempo a sós. Renato falou para ambos lerem os textos abaixo, em uma versão com linguagem fácil (NTLH) e com o seguinte tema em mente: Deus como prioridade e as prioridades de Deus. Deles também deveriam fazer anotações em um caderno comentando algo a respeito do que leram.

Dia 1: Deuteronômio 6.1-16
Dia 2: Êxodo 20.1-17
Dia 3: Ageu 1.1-15
Dia 4: Colossenses 1.13-23
Dia 5: Colossenses 3.1-4, 3.12-17
Dia 6: Colossenses 3.18-25
Dia 7: 1 Timóteo 3.1-13

Após se despedirem de Renato, Valéria e Otávio foram embora de mãos dadas.

 

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[1] João Paulo e Juliana são casados há 18 anos e são pais de três crianças lindas. Ju é formada em psicologia, psicopedagoga e atua como conselheira bíblica. João é pastor, professor do CPAJ doutor em Novo Testamento.

[2] A primeira sessão desse caso fictício pode ser lida em: https://menteecoracao.com.br/2020/07/01/um-caso-de-aconselhamento-de-casal-sessao-1/

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Um Caso de Aconselhamento de Casal (Sessão 1)

Por: João Paulo e Juliana Thomaz de Aquino[1]

 

Otávio e Valéria tem 10 anos de casamento.[2] Eles tem uma menina linda de oito anos, Luana, e moram em uma casa bem aconchegante, da qual ainda pagam prestações. Não são ricos, mas também não passam necessidade financeira. Valéria se converteu na adolescência e Otávio é filho de presbítero. Quem os conhece superficialmente pensa que eles tem uma vida perfeita, mas o casamento deles está enfrentando uma crise profunda e está prestes a acabar.

 

Otávio reclama que Valéria não o valoriza, critica-o muito para outras pessoas e disse que eles praticamente não tem mais vida sexual, pois Valéria está sempre cansada demais. Nas discussões, diz Otávio, Valéria traz à tona erros do passado e o trata como se os maridos de todas as suas amigas fossem melhores do que ele.

 

Valéria diz que Otávio é frio e não se importa com os sentimentos dela. Ela diz que ele é egoísta, não se importa com o relacionamento deles, nem demonstra vontade de mudar em seus erros. Ela não se sente valorizada como mulher nem como mãe, também não se sente amada. A irmã de Valéria, que frequenta uma igreja evangélica, mas sem compromisso, fala constantemente para ela que já havia passado da hora de deixar Otávio. Dois colegas de trabalho de Otávio, os mais íntimos, fazem brincadeiras com ele por causa de sua situação matrimonial.

 

Foi assim que ambos chegaram para buscar aconselhamento bíblico. Embora não aguentem mais ficar casados, algo dentro deles estava dizendo que deveriam buscar a ajuda de Deus antes de desistirem de vez. Na verdade, ainda havia um sentimento de um para com o outro, mas eles não conseguem mais dialogar, nem resolver os problemas e nem sair da situação em que estão. Estão presos em uma situação ruim e não sabem como sair.

 

O conselheiro primeiramente ouviu as versões de ambos e reclamações que faziam um do outro, intervindo de vez em quando para que Valéria deixasse Otávio falar e para que ele não fosse sarcástico. À medida em que o tempo daquela primeira sessão de aconselhamento estava acabando, o conselheiro falou sobre a necessidade do perdão, explicando-lhes rapidamente Colossenses 3.12-17, enfatizando, especialmente o versículo 13: “”. Depois disso o conselheiro lhes passou algumas tarefas a serem feitas naquela semana, antes da próxima sessão. Eles deveriam assistir o filme “A História de Nós Dois“; ler um texto da internet; ir ao zoológico com a Luana e voltar a fazer as suas devocionais pessoais. Os seguintes textos bíblicos deveriam ser lidos naquela semana:

 

 

Renato, o conselheiro bíblico que estava ajudando Otávio e Valéria, também lhes disse que, naquela semana, deveriam evitar ao máximo falar sobre os aspectos ruins do seu casamento. Em vez disso deveriam conversar sobre o filme, o passeio e focar nas coisas boas e belas de seu relacionamento e conquistas juntos, praticando a  gratidão para com Deus, com Luana e um com o outro. A incredulidade e desânimo cederam um pouco e deram um pequeno espaço à esperança.

 

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[1] João Paulo e Juliana são casados há 18 anos e são pais de três crianças lindas. Ju é formada em psicologia, psicopedagoga e atua como conselheira bíblica. João é pastor, professor do CPAJ doutor em Novo Testamento.

[2] O caso que narramos aqui é fictício. Ao mesmo tempo é um amálgama das histórias de muitos casais que já conhecemos e aconselhamos. Nós mesmos nos vemos em algumas dinâmicas pecaminosas deste casal. Em oração pedimos que Deus use essa história singela e as demais que pretendemos escrever nesta série para abençoar tantos casais que têm sofrido crises causadas pela carne, pelo mundo e pelo Diabo. Tratamos aqui as coisas de maneira bem breve e tudo dando muito certo. Em sessões de aconselhamento, as situações são um tanto mais demoradas, complicadas e matizadas.